João Vianney nasceu em família camponesa, humilde e muito religiosa, na cidade de Dardilly, França, em 1786. Quando criança já cultivava um forte apego às coisas de Deus. Tinha um rosário que não se desgrudava, andava constantemente com ele. Até que sua irmã cismou que o queria para ela e tentou pegá-lo. Ambos começaram uma forte discussão, com empurrões de cá e de lá. Logo chega a intervenção da mãe! Sai “perdendo” o pequeno João. Mas foi sua primeira grande lição cristã: a sábia mãe pediu que ele desse amorosamente o rosário a sua irmã! Em troca ela lhe deu uma imagem de Nossa Senhora que ficava em cima da geladeira que ele tanto sempre quis. Ah, que alegria foi!
Já adulto chegou a servir no exército de Napoleão mas logo desertou pois não era compatível com seus propósitos de vida. Ingressa na vida religiosa mas com dificuldades pois foi alfabetizado somente aos 17 anos e precisou aprender o francês, visto que apenas sabia o dialeto local.
Sua falta de instruções lhe trouxeram problemas para obter a ordenação, mas sua sabedoria e moralidade superavam imensamente sua precariedade intelectual – permitindo-o concluir em 1815 a formação de sacerdote em um seminário privado de Ecully na França. A dedicação às orações profundas, obediência, caridade, assim como a posse de carismas, logo chama a atenção de um de seus superiores: percebia claramente estar diante de uma alma santa. São João Vianney moldava-se no exemplo citado pelo apóstolo Paulo:
“Deus escolheu os insignificantes para confundir os grandes”
Ah... A cidade (ou vilarejo) de Ars... Era “temida” por todos os padres, ninguém queria ser vigário por lá. Motivo: era uma pequena comunidade pagã de cerca de 230 pessoas, onde vigorava a violência, os vícios, a prostituição, a hostilidade (incluindo assassinatos) e o estilo de vida das tabernas (cabarés) noturnas. A igreja quase sempre ficava vazia. Portanto, era o local exato para ser transformado pelo santo padre João Vianney. Quem mais poderia dar jeito naquela gente? Logo foi transferido para lá. Devido a isso passou a ser conhecido como Cura D’Ars, pois a palavra cura no português arcaico significa vigário. Portanto, o Padre de Ars.
No caminho para a pequena cidade pede ajuda a uma criança pastorinha para encontrar o local e o menino o aponta logo mais a frente. Ao localizar visualmente diz: “quão pequena é...”. Se ajoelha e reza profundamente pelos seus habitantes fixando seu olhar nas casas. O padre podia ver além do que os olhos físicos enxergavam.
Se instala na capelania de Ars-em-Dombes (subordinada a paróquia de Misérieux, da diocese de Lyon), passando grande parte do dia em oração e jejum na igreja, rogando pela conversão de sua pequena comunidade:
“Deus meu, concedei-me a conversão de minha paróquia. Consinto em sofrer quanto quiserdes, durante toda minha vida. Sim, durante cem anos as dores mais atrozes, contanto que se convertam”
E não só.... A noite antes de dormir se auto aplicava uma severa penitência com açoitamentos secretos que duravam em média uma hora e chegava até a desmaiar de dor. Mas vizinhos escutavam com muita pena, assim como as mulheres que gentilmente limpavam por vezes a casa paroquial da igreja viam o sangue em suas roupas e nas paredes de seu quarto.
Importante destacar que o padre nunca impôs a ninguém esse tipo de penitência. O objetivo dessa dura e secreta pena sobre si mesmo era a conversão de todas aquelas duas centenas e meia de almas do vilarejo.
Passado alguns anos em oração, jejuns, penitências, dedicação aos pobres e sacrifícios ofertados a Deus, somados às suas pregações com profundos sermões que atingiam o centro das almas, foi trazendo a comunidade de volta para a igreja aos poucos e começam as conversões.
Nesse período, chegava a passar entre 16 a 18 horas no confessionário, deixando as vezes até de comer para não deixar algum irmão sem atendimento. Tornou-se um dos maiores confessores da igreja. E comentava sua principal fórmula para conversão das almas:
“Dou aos pecadores uma pequena penitência e o resto faço eu no lugar deles”. O padre agia como um “pai” intercedendo a Deus pelos seus “filhos” (fiéis).
O relato de um fiel exemplifica bem a situação: o homem tinha muito receio de se confessar com o padre Vianney pois temia uma rigorosa penitência que poderia receber. Finalmente um dia toma coragem e se confessa. Para sua surpresa o padre passa uma penitência muito leve. Ele pergunta: "Mas só isso?!”. O padre responde: “Meu filho, você precisaria de muito mais penitência, mas receio que se passasse você não a cumpriria. Então faça está leve que te passei e deixe a pesada que cumpro para você!”
Em outra situação, o padre sai do confessionário e se dirige até um fiel na fila da confissão e lhe diz: “Olha, eu estou vendo o demônio como uma abelha voando em volta de você, dizendo para você não confessar aquele pecado… Mas pode confessar, porque eu já sei o que é.”
Portando, sua dedicação ao confessionário enlouquecia o covarde satanás. Certo dia seu quarto começou a pegar fogo e correram lhe avisar no confessionário. Calmamente disse: “Vá lá e apague o fogo. É o demônio, ele ataca a gaiola pois não pode atacar o passarinho”.
Finalmente, após treze anos com seu exemplo, orações, penitências, sermões e atividades pastorais, converteu toda a cidade, lotando a igreja e esvaziando as tabernas. Sua fama de santidade se espalhava aos arredores, até chegar a toda Europa, iniciando peregrinações para se confessarem com o padre de Ars. A pequenina cidade passou a ser conhecida como “o grande hospital das almas”.
As tabernas logo fecham e se transformam em hospedarias para os viajantes peregrinos! Homens, mulheres e crianças passaram a se agrupar em confrarias. Abriu-se uma “Casa da Providência” para as meninas, incluindo as órfãs e abandonadas. Atitudes de hostilidades e vexatórias, como as bebedeiras, passaram a ser repudiadas pelos jovens. E apenas doze anos antes, o arcebispo pensava até em fechar a paróquia da cidade!
Morreu serenamente aos 73 anos de fadiga, sua companheira por toda a vida, pois dormia apenas 3 horas por dia para dedicar-se sem parar a conversão de seus fiéis. Seu enterro foi acompanhado por 100.000 pessoas. Foi canonizado em 1925 pelo Papa Pio IX. Para o processo seu corpo foi exumado e encontrado em estado incorrupto, podendo ser visto ainda hoje no Santuário de Ars – o qual atualmente recebe cerca de 450.00 peregrinos anualmente. O dia de seu falecimento, 04 de agosto, passou a ser o dia do padre e o santo seu padroeiro a partir de 1929.
Referências: Cidade Nova, Instituto Hesed, Editora Cleófas, Franciscanos, Vocação de Jesus