Lembro-me de assistir a um conhecido programa de debates da televisão brasileira há muitos anos atrás. Em pauta no dia: Jesus Cristo. Acho que era próximo à páscoa (não lembro exatamente), então devido ao feriado cristão buscaram o "tema do momento" para discutirem.
Em meio às argumentações históricas e teológicas sobre Jesus, o jornalista mais experiente da roda de debatedores tentava entender como podia existir a Santíssima Trindade (mas não tentando refutá-la, estava com reais boas intenções): "Mas como pode? De que forma Três (Pai, Filho e Espírito Santo) podem ser apenas Um?!" insistia o destemido e inquieto jornalista. Já meio constrangido com a insensatez da questão, o âncora do programa chama o intervalo.
Retornando ao vivo, um teólogo convidado para o debate tenta finalizar a impossível discussão lhe chamando a atenção amistosamente: "Meu caro, você está querendo desvendar em questão de minutos o maior mistério que a humanidade tem conhecimento: a Santíssima Trindade. Se nós tivéssemos a capacidade de entender esse mistério, ele deixaria de sê-lo, oras! Por isso é um mistério, e o maior de todos!"
Mas não pense que essa dúvida surgiu apenas em mentes leigas, não! Santo Agostinho, um dos maiores doutores da igreja, autor de várias obras renomadas até hoje tomadas como bases de estudos católicos, também teve esse dilema sobre a Santíssima Trindade.
Era o ano de 415. Neste período, Santo Agostostinho vinha refletindo, dentro de seus mais profundos conhecimentos, sobre a Santíssima Trindade para compor seus estudos e finalizar a escrita de uma de suas maiores obras: De Trinitate (Sobre a Trindade).
Após um dia de muito trabalho, completamente exausto em suas deliberações interiores, decide caminhar pela praia... Mas não deu trégua e manteve suas locuções mentais sobre a Santíssima Trindade, indagando: "Mas sendo Pai, Filho e Espírito Santo apenas Um único Deus, como são Suas conversas? Como pode Três ser apenas Um?".
Essa, dentre várias outras indagações que refletia em sua mente, chegou ao mais alto do céus, até ao próprio Deus, que resolveu dar lhe uma resposta de uma forma inusitada.
Durante a caminhada na praia, Agostinho avistou ao longe um menino e notava que ele corria rapidamente de um lado para outro sem pausa. Parecia muito determinado. Se aproximou mais e ficou ainda mais intrigado, pois percebeu que a criança pegava com uma concha uma pequena quantidade de água do mar e corria jogar em um buraco na areia... Fazia esse percurso repetidamente, pois o buraco sempre se esvaziava quando a água era jogada nele ao descer pela areia ao seu fundo.
Fonte: imagensbonitas.com.br
Fascinado pela ingenuidade do menino, o santo questionou:
Santo Agostinho: o que está fazendo?
Menino: Vou colocar neste buraco, toda a água do mar!
O santo gentilmente olha para o mar, estende seus braços sobre a vastidão das águas e informa a criança seu entendimento, que lhe parecia ser muito óbvio.
Santo Agostinho: Isto é impossível, menino. Como podes querer colocar toda essa imensidão de água do mar neste pequeno buraco?
Neste momento, o menino (um anjo ou o próprio Menino Jesus?!) o olha seriamente e responde em tom forte.
Menino: Em verdade, te digo: é mais fácil colocar toda a água do oceano neste pequeno buraco na areia do que a inteligência humana compreender os mistérios da Santíssima Trindade!
Em seguida o menino desaparece. Santo Agostinho imediatamente compreendeu que era uma resposta de Deus para suas profundas reflexões sobre a Santíssima Trindade: nem ele e nem ninguém, como simples humanos, jamais desvendaria esse mistério infinito!
Referências: Rádio Comunidade FM, Saint Bernadette Catholic Church, Church of Saint Michael, Canção Nova, Imagens Bonitas