Tíbio é sinônimo daquele que é morno, destituído de entusiasmo e zelo. Hoje em dia facilmente encontra-se um cristão tíbio, ou seja, acredita em Deus e até frequenta os sacramentos da igreja mas não faz esforço algum para se desapegar de seus pecados (chegando a vícios) cotidianos (bebedeiras, mexericos, pornografia, traições, orgulho, hostilidade ao próximo, ira descontrolada, etc). Uma alma como essa acha normal ficar vagando entre o céu e o inferno. Mas o Padre Michael Sopocko, repreende do perigo desta situação:
"A tibieza é um estado muito perigoso, visto que a alma permanece nele na ilusão, como o doente que se finge são e não procura o médico. Não leva em consideração as admoestações dos outros, com os quais até se irrita por esse motivo. Considera uma futilidade os inúmeros pecados veniais, nos quais, muitas vezes, se vicia; e algumas vezes comete também pecados graves, com os quais também aos poucos se acostuma. As almas tíbias podem possuir até certas virtudes, que piora ainda a situação delas, porque as mantêm na falsa segurança."
Hoje, portanto, relataremos o testemunho de um religioso tíbio da idade média, que precisou se encontrar face a face com a morte para alcançar uma conversão profunda e se tornar um dos grandes santos reformadores dos costumes dos nobres e clérigos da igreja da idade média, no século XII.
Norberto nasceu próximo ao início do segundo milênio, em 1080, em nobre e riquíssima família no norte da atual Alemanha. Já no ingresso a vida adulta, tinha que optar por um de dois caminhos, típicos da nobreza da época: militar ou eclesiástico. Mesmo sem vocação religiosa alguma, optou pela segunda, para vir a ser um subdiácono. Por uma simples razão: a vida que receberia na côrte do príncipe e do imperador Henrique V seria a melhor possível.
E assim realmente aconteceu: levava sua vida de subdiácono através de grandes e refinados banquetes de côrte em côrte, aos prazeres dos namoros, na fina elegância dos vestimentos e das caçadas. Em resumo: se tornou um clérigo de vida mundana da época feudal, até comum de se encontrar no período. Mas os desígnios de Deus para ele dentro da Sua igreja eram outros e muito importantes, sua vida precisava mudar...
Cavalgava em meio a uma tempestade, não tinha como fugir, só podia acelerar o máximo possível o galope. Mas não deu tempo: um raio o atinge, matando seu cavalo e o atirando longe. Ficou desacordado por pouco mais de uma hora. Ao acordar teve a reflexão mais profunda de sua vida: percebeu que se não abandonasse sua vida pecaminosa de vícios não salvaria sua alma.
Importante neste momento destacar suas opções. Ele poderia ter se levantado, voltado para sua côrte e recebido os mais zelosos cuidados médicos, reingressando posteriormente na sua vida desregrada. Mas ele percebeu naquela situação de vida ou morte: e se eu tivesse morrido? O que estou fazendo de bem na minha vida? Por seu livre arbítrio decidiu mudar de vida. Deus não o forçou, apenas permitiu uma situação que lhe propiciasse uma profunda reflexão.
Ainda no local ao acordar pergunta, então, a Deus: "Senhor, o que queres que eu faça?". Em seguida recebe e escuta uma resposta clara e forte de Deus : "Abandone o caminho do mal e faça o bem”.
A reflexão de Norberto cabe a todos nós diariamente: se morresse hoje, eu iria para o céu com a vida que tenho levado? Minha alma estaria salva? Não se pode deixar para amanhã a conversão que pode ser feita hoje, ainda agora!
Foi o ponto de virada em sua vida. Da mesma forma que estava aprofundado nos vícios, decidiu fazer uma conversão na mesma proporção, redirecionando sua vida no caminho oposto ao qual estava.
Largou imediatamente sua vida medíocre de vícios, mas não apenas... desfez-se do seu castelo, doou seus bens aos pobres, largou os finos vestimentos e passou a usar roupas de pobres. Ficou apenas com uma jumenta e alguns utensílios necessários para celebrar a missa diariamente por onde passasse - incluindo o ostensório para conduzir honrosamente a Eucaristia, que apenas muito tempo depois seria amplamente usado nas igrejas do mundo.
O ostensório passou, então, a compor as pinturas de quadros retratando São Norberto, assim como sua grande devoção à Eucaristia - que lhe concedeu o título de apóstolo da Eucaristia.
Passou longos anos em penitência, além de realizar estudos de teologia no Mosteiro de Siegburgo, vindo a se tornar sacerdote. Mas seu chamado era para a peregrinação, sempre a pé e descalço, conseguindo inclusive uma aprovação especial do Papa Gelásio II para ser itinerante (não era o comum na época). Pregou o evangelho pela França, Bélgica e Alemanha, sempre com o exemplo de uma vida austera e relatando seu testemunho de profunda conversão, atraindo muitos seguidores:
"Frequentei as côrtes dos príncipes e me sobraram riquezas, não poupei deleite algum. Mas tendes como certos meus irmãos, que a maior abundância de bens deste mundo reside na pobreza de espírito. Só me tornei rico quando careci de bens, porque no instante em que expulsei do meu coração os desejos de bens terrenos, ele se encheu dos bens da glória, muito melhores, sem comparação... de inefável suavidade e de eterna duração" (São Norberto).
Assim, fundou a Ordem dos Premonstratenses (ou chamado de monges brancos) - sob as regras de vida e conduta de Santo Agostinho, própria dos sacerdotes, atribuindo-lhes também a função apostólica para divulgação do evangelho (não comum à época aos monges e revolucionária). Sua popularidade se acumulou de tal forma que em 1126 a população o aclamou como sucessor do bispo de Magdeburgo. Neste período, combateu um cisma na igreja e foi conselheiro e chanceler do rei alemão Lotário III.
Foi um grande pioneiro de sua época ao combater frontalmente os privilégios do clero e dos nobres, nos quais muitos mantinham um cristianismo de aparências. Através de suas fortes pregações muitos destes voltaram à verdadeira fé e aos caminhos do simples e humilde evangelho. Seus esforços de espírito reformista, assim como os conteúdos de suas pregações, chegaram ao conhecimento do Papa. Este lhe deu amplo apoio, possibilitando a Norberto se tornar um reformador dos costumes da igreja de Cristo do século XII (assim como São Bernardo). Em 1532 foi canonizado pelo Papa Gregório VIII. Há inúmeros mosteiros com mais de 1.200 monges da ordem de São Norberto espalhados pelo mundo até os dias atuais, incluindo o Brasil.
Se você se encontra em uma situação de tibieza e precisa de forças para sair dela, ou mesmo tem algum parente ou colega nesta situação, ore a São Norberto:
Oração 1: "Ó Deus, que fizestes de São Norberto fiel ministro da vossa Igreja, pela oração e zelo pastoral, concedei-nos por suas preces e méritos, alcançar um dia, com a vossa graça, a realização de tudo o que nos ensinou por palavras e exemplos. Por nosso Senhor Jesus Cristo Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo, Amém."
Oração 2: “Grande bispo e pastor das almas, ajudai-nos a viver com sinceridade e verdade os sacramentos, tendo como centro da nossa vida a Eucaristia. Que Jesus seja cada dia mais amado e adorado, e nós sejamos seus fiéis seguidores. Amém! São Norberto , rogai por nós!"
Referências: Padre Bráulio D'Alessandro, Padre Alex Nogueira, Arquidiocese de São Paulo, Paulus, Canção Nova (a), Canção Nova (b), Comunidade Mar Adentro, A Palavra Viva de Deus, Infopedia, Europeana