Santa Teresa D'Ávila foi a primeira mulher Doutora da Igreja Católica (proclamada pelo Papa Paulo VI em 1970), escrevendo livros que relataram suas experiências místicas que tanto marcaram seu coração: o “Caminho da Perfeição”, o “Livro da Vida” e as “Moradas e Fundações”. Foi responsável ainda pela fundação de 32 mosteiros (femininos e masculinos), assim como por uma grande reforma na Ordem das Carmelitas Descalças. Posteriormente deixou a encargo de São João da Cruz o legado de continuar a abertura de ainda mais mosteiros.
Um dos maiores milagres de sua vida foi a transverberação de seu coração, em 1571. A transverberação é uma experiência mística na alma e que pode gerar reflexos físicos no corpo da pessoa (mas não obrigatoriamente). Quando este evento divino acontece, a alma é tomada pelo amor de Deus, aumentando sua comunhão com Ele, sua caridade e consequentemente sua santidade. Alguns santos tiveram essa experiência ofertada pelo próprio Deus: São Padre Pio, São Francisco de Assis, Santa Teresinha do Menino Jesus e a própria Santa Teresa D'Ávila, que relataremos a seguir.
O fenômeno ocorreu quando Santa Teresa entra em um de seus êxtases místicos e começa a ver um anjo a sua esquerda, dizendo se assemelhar a um Querubim, escrevendo em sua autobiografia o que ocorreu em seguida:
"Via-lhe nas mãos um dardo de oiro (ouro) comprido e, no fim da ponta de ferro, me parecia que tinha um pouco de fogo. Parecia perfurar-me este pelo coração algumas vezes e que me chegava às entranhas. Ao tirá-lo (...) me deixava toda abrasada em grande amor de Deus. Era tão intensa a dor que (me) faziam dar queixumes (lamentações) e tão excessiva a suavidade que me causava esta grandiosíssima dor que não podia desejar que se tire(tirasse), nem a a alma se contenta com menos de que com Deus. Não é dor corporal, mas espiritual, embora o corpo não deixa de ter a sua parte, e até muita. (O Livro da Vida, Cap. 29, 13).
São João da Cruz explica de forma clara o que ocorre com a alma dos santos durante o fenômeno místico da transverberação:
"um serafim investe sôbre ela, com uma flecha ou dardo todo incandescente em fogo de amor, transverberando esta alma que já está inflamada como brasa, ou, por melhor dizer, como chama viva, e a cauteriza de modo sublime. No momento em que é cauterizada assim, e transpassada a alma por aquela seta, a chama interior impetuosamente irrompe e se eleva para o alto com veemência, tal como sucede num forno abrasado ou numa fogueira quando o fogo é revolvido e atiçado, e se inflama em labareda. A alma, então, ao ser ferida por êsse dardo incendido, sente a chaga com sumo deleite. Além de ser tôda revolvida com grande suavidade, naquele incêndio e impetuosa moção que lhe causa o serafim, provocando nela grande fervor e amoroso desfalecimento" (Obras de São João da Cruz, Volume II, p.261).
A santa morre em 1582 e nove meses mais tarde fazem a exumação de seu corpo que encontra-se incorrupto, ou seja, sem entrar em estado de decomposição. A pedido da igreja, chegaram a retirar o coração de seu corpo para que fosse exposto, quando então se depararam com o fato verídico relatado pela santa em seu livro: havia nele um rasgo típico de uma flechada, já cicatrizado e com sinais de cauterização (devido a ponta da flecha com fogo)!!! O coração foi então colocado em um vaso de cristal para exposição e até hoje pode ser visto no Mosteiro Carmelita de Alba de Tormes, situado na Espanha.
Até os dias atuais sua coloração permanece igual ao de um coração vivo, assim como suas lesões evoluem iguais a de um coração de uma pessoa viva. Crostas das feridas caem com o tempo e vão se acumulando no fundo do vaso, podendo também serem vistas. Adicionalmente, desde o século XIX surgiram vários espinhos na sua base que foram crescendo.
Referências: O Livro da Vida: autobiografia de Santa Teresa D'Ávila (1515 a 1582), Obras de São João da Cruz (Volume II), Arquidiocese de Aracaju, Our Lady of Mercy, Boston Carmel, Christo Nihil Præponere